Profissional do futuro quer flexibilização, mas precisa de qualificação
O avanço tecnológico e as transformações nos modelos e nas relações laborais são alguns fatores que explicam a dinâmica
A flexibilização tem sido umas das características mais valorizadas em um cargo pelos profissionais, conforme pesquisas e estudos recentes. A qualificação contínua, no entanto, é apontada como uma exigência também cada vez mais presente no mercado de trabalho. O avanço tecnológico e as transformações nos modelos e nas relações laborais são alguns fatores que explicam a dinâmica.
Para se ter uma ideia, dois terços dos trabalhadores buscariam outra oportunidade de emprego se a possibilidade do trabalho remoto fosse retirada deles. A informação é do relatório sobre o cenário do trabalho remoto, elaborado pela empresa de tecnologia corporativa Owl Labs, em parceria com a consultoria Global Workplace Analytics, e divulgado em 2023.
Além disso, segundo a consultoria McKinsey, 87% dos estadunidenses querem trabalhar em um ambiente flexível, que permita uma atuação presencial e virtual – o famoso modelo híbrido de emprego. Têm sido comum dinâmicas em que os colaboradores comparecem às empresas nos dias de terça, quarta e quinta-feira, por exemplo, ou que cumpram parte de alguns dias em modo presencial.
Um estudo da Accenture, contudo, mostrou que a escassez de talentos e a falta de habilidades consideradas importantes para o futuro do trabalho são apontadas, globalmente, por mais de 90% dos CEOs como alguns dos principais desafios que afetam seus negócios. A pesquisa indica que os profissionais precisam buscar novas competências para se manterem atualizados em suas áreas e aproveitarem a alta demanda por trabalhadores capacitados em assuntos como inteligência artificial, análise de dados e realidade virtual, por exemplo.
Aprendizagem contínua é cada vez mais necessária
Nesse contexto, o conceito de aprendizagem continuada tem ganhado cada vez mais espaço. Segundo pesquisa do Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior (Semesp) sobre a pós-graduação, divulgada no final de 2023, 95,6% dos entrevistados estariam dispostos a fazer outro curso de especialização. Além da busca por aperfeiçoamento pessoal, as pessoas procuram dominar técnicas em diferentes áreas e se manter competitivas diante das exigências do mercado.
Um levantamento da consultoria em Recursos Humanos Career Builders revelou, por exemplo, que 77% dos empregadores consultados percebem as soft skills – habilidades para além da formação técnica – tão importantes quanto o conhecimento específico. O estímulo da criatividade, o domínio de tecnologias, a sede por conhecimento contínuo e o desenvolvimento de novas habilidades estão entre os principais aspectos desenvolvidos pelos profissionais que colocam a educação continuada em prática.
De acordo com o coordenador da Universidade Corporativa do Semesp, Marcio Sanches, em entrevista à imprensa, as faculdades ainda são muito voltadas para cursos convencionais de graduação e pós-graduação, com anos de duração. Diante do contexto atual, ele acredita que é importante que as instituições também comecem a oferecer mais programas de requalificação permanente e de curta duração para estimular a aprendizagem contínua.
Como buscar formação contínua
Ao fazer um teste vocacional e decidir qual faculdade seguir, o futuro profissional costuma fazer um planejamento de qual caminho quer trilhar. Ao longo da formação, contudo, novas possibilidades surgem e é importante que o estudante esteja aberto a revisitar suas escolhas e buscar atualizações ao passo que as demandas do mercado evoluem. Isso porque, conforme os especialistas, a aprendizagem contínua não se limita aos anos de estudo universitário, estendendo-se ao longo de toda a carreira profissional.
Quem optar pela faculdade de Enfermagem, por exemplo, pode investir na formação continuada por meio de programas de especialização, como em enfermagem obstétrica, pediátrica ou geriátrica, e buscar aprimorar suas habilidades em diferentes contextos de cuidado. Além disso, oportunidades de atualização em técnicas e tecnologias na área da saúde também são maneiras de aproveitamento.
Já para graduandos na faculdade de Direito, a formação continuada, assim como em todas as áreas, também é apontada como importante. Os estudantes e profissionais podem buscar especializações como direito penal, civil e tributário. Aproveitar oportunidades de atualização em temas emergentes, como propriedade intelectual, direito digital ou direito ambiental também são alguns caminhos. A formação constante permite que os profissionais estejam a par das mudanças legislativas e das jurisprudências para que se mantenham relevantes ao longo da carreira.
Aprendizado permanente pode ser feito em modelo flexível
Conforme a pesquisa Owl Labs, feita com mais de 2.300 trabalhadores dos Estado Unidos, 41% das pequenas empresas exigiram que os profissionais retornassem ao trabalho presencial depois da pandemia. Já entre as grandes empresas, com mais de 10 mil funcionários, 27% fizeram a mesma exigência.
À medida que mais organizações convocam seus funcionários a voltarem ao escritório, a resistência deles continua, segundo o estudo. Isso se dá, principalmente, em relação àqueles empregadores que haviam prometido home office ou modelo flexível permanente.
Além disso, ainda que mais da metade (62%) dos trabalhadores entrevistados tenham dito ser mais produtivos ao trabalhar em casa, 49% relataram acreditar que os líderes percebem colaboradores que trabalham presencialmente como mais esforçados e confiáveis do que aqueles que atuam remotamente.
Dos trabalhadores respondentes, 66% afirmaram que procurariam outro emprego se a possibilidade de cumprir com suas tarefas laborais de casa fosse abolida, outros 39% afirmaram que pediriam demissão caso isso acontecesse.
O levantamento mostrou que trabalhar em casa também representa uma economia média de US$ 19,11 por dia para cada profissional que não precisa ir até o escritório. Mais da metade (52%) afirmaram que topariam ter um corte no salário de 5% ou mais para ter mais flexibilidade no local de trabalho, e 23% disseram que aceitariam um corte de 10% ou mais.
Nesse cenário de transformação nos modelos e nas relações de trabalho, as exigências em relação às capacidades que os profissionais precisam desenvolver mudam. De acordo com a pesquisa o Futuro do Trabalho 2023, do Fórum Econômico Mundial, com o apoio da Fundação Dom Cabral, até 2027, 23% das ocupações devem se modificar.
Assim, a movimentação do mercado tende a continuar exigindo que os profissionais se mantenham atualizados e, portanto, atentos às tendências de educação continuada. Segundo o estudo, apostar na capacitação de funcionários dentro de casa também é uma ação que traz ganhos tanto para o colaborador quanto para as empresas. Isso porque, as oportunidades de avanço na carreira estão entre as prioridades dos trabalhadores para 2024.
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